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quinta-feira, 25 de abril de 2024


PARABÉNS, 25 DE ABRIL


Nos teus cinquenta anos

Erguem-se novos tiranos

E eu faço-te um poema, Abril


Povo não tenhas saudade

Da falta de Liberdade

Que te faria servil


Quem espezinha o rubro cravo

Oferece-se como escravo

De regime autoritário


Unamos pois as nossas mãos

Como dignos cidadãos

Faremos mundo mais solidário


Não posso dizer que criei este poema especificamente para a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril porque, na verdade, trata-se de uma revisão  um limar de arestas, por assim dizer  de um poema que escrevi por ocasião da comemoração dos 20 anos, em 1994.

Esse poema não figurava no blog porque, quando fiz a selecção do que aqui merecia estar, me apercebi de que, apesar de já ser uma jovem adulta quando o escrevi, era ainda muito rudimentar; talvez até um pouco infantil.

Apesar de tudo, não quis limar demasiado, porque isso seria, de alguma forma, trair a jovem que eu então era. Limitei-me, portanto, às alterações indispensáveis para obter uma qualidade que me parecesse minimamente aceitável, além da revisão de um ou dois versos à luz da realidade actual (por exemplo, "No dia dos teus anos" passou a "Nos teus cinquenta anos" e "enterram mais fundo os tiranos" passou a "erguem-se novos tiranos").

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A ESCALADA (PROVISÓRIO)

Este, se bem me lembro, foi uma reflexão sobre as dificuldades do meu percurso enquanto estudante.
Claro que hoje não parece ter sido assim tão difícilSmile
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Quantos solitários pensamentos
Atravessam a minha mente
Enquanto o comboio desliza sobre os carris.
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Sempre esta escalada,
Este esforço desesperado para atingir o topo,
Que subida tão íngreme!
.
Sempre a subir, sempre a subir,
Sempre com medo de escorregar,
Sempre com receio de pôr o pé em terreno falso.
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Sempre mais um obstáculo,
Mais um trapaceiro e injusto obstáculo,
E eu tão cansada da subida...
.
Não há como escapar...
Os caminhos que descem são ainda mais assustadores
E não há caminhos a direito.
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Há que enfrentar a escalada,
Não quero ficar pelo caminho,
Mas os degraus de terra desfazem-se debaixo dos pés.
.
Se eu pudesse voar...
Não precisava de escalar a montanha.
Era livre como a andorinha...
.
Era amiga íntima do Sol,
Confidente da Lua,
E era feliz!
.
1992

MENSAGEM DE SOLIDARIEDADE PARA TIMOR LESTE (PROVISÓRIO)

Bem, andei a vasculhar nos meus escritos mais antigos, a ver se havia alguma coisa que valesse a pena pôr aqui. Resolvi colocar alguns poemas. Não todos. Alguns são tão mauzinhos que até me fazem Envergonhado! Não que os outros sejam pérolas literárias...Língua de fora
Este escrevi-o antes da independência de Timor Leste. Não foi o único que escrevi sobre o assunto mas parece-me o único merecedor de aqui estar. Aqui fica ele então:
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É ainda para ti
É ainda por ti
Que junto a minha tinta
Ao teu sangue
Pois é ainda com sangue
Que a tua terra é regada.
São ainda amargos os frutos
Que os teus filhos colhem.
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Que esteja breve
O fim do pesadelo
E possa de cada espinho
Nascer uma flor.
.
14 de Dezembro de 1995

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

SOLIDÃO

Quando fiz a selecção dos poemas a passar para aqui, houve alguns que não me pareceu valer a pena transferir do blog mais antigo. No entanto, ao reler alguns deles, descobri que não são assim tão maus. Ou pelo menos, não são assim tão piores do que outros que aqui publiquei.
Aqui fica o primeiro:

O meu coração
Está vazio.
Encheu-se de amarguras
Despejou lágrimas.

Lágrimas de ácido
Que corroeram a minha vontade
De viver.
De ser.

Quis amar
Mas o meu amor
Não encontrou destino.
Perdeu-se.

Fiquei vazia.
Quis sentir tanto...
Quis deixar de sentir...
Dor e alegria
Já não passam por mim.

Já não sinto nada.
Mas queria sentir.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

SINTRA




Era inevitável. Ainda que sem o engenho de outros maiores, um dia, também eu teria de cantar a Sintra a que Lord Byron chamou “glorious Eden”.
Votem, comentem...




Sintra das brumosas madrugadas
Do palácio no alto da Pena
De alma acolhedora e serena
Doces travesseiros e queijadas.
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Os teus verdes eternos tesouros
Avisto-os da alta colina
Onde mora o Castelo dos Mouros,
E contemplo das velhas ameias
Sob o manto de espessa neblina
A História que te corre nas veias.

Com teus palácios, quintas, convento,
Sintra da serra, da vila e do mar,
Onde me dou às garras do vento
Que traz o canto de uma andorinha,
E eu consinto em naufragar
No afago da brisa marinha.

As tuas nascentes cristalinas
Já falham nas fontes em ruínas
Mas o tempo em ti não desvirtua
Os encantos que sempre foram teus,
E é porque há em ti, Monte da Lua,
Afectos que sempre serão meus,
Que por todo o sempre eu serei tua.

domingo, 17 de janeiro de 2010

REMANSO

Não sei de quem foi o voto no poema A Lenda de Flor da Rosa, mas obrigada :)

Entretanto, aqui fica mais um poema:

A minha mão perdida no teu peito
Sondava se era por mim que batia
De mansinho naquela noite fria
Enquanto tu dormias no meu leito
O coração que tu me deste um dia.

Afastei de ti os lençóis de cetim
Encostei o rosto ao teu tronco quente
E de ouvido ávido, impaciente,
Colado à tua pele branca de marfim,

Descansei, quando ele me disse que sim.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

NATAL


Este poema foi escrito há quase quinze anos, mais ou menos por altura desta quadra festiva, e felizmente, o meu estado de espírito é hoje bem mais risonho...

Flocos de alegria
Incendeiam os corações
Mas gelam-me a alma

A branca neve
tinge-se de vermelho.
São as feridas
Abertas no meu peito.

Cânticos rejubilantes
Ferem-me os ouvidos
Como violinos.

A dor rasga-se
Dentro de mim
E Rasga-me
E eu morro já sem dor,
Sem medo,
Sem arrependimento.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

PARA TI, D.

Este, decididamente, não é nenhuma obra-prima. Mas é-me muito caro porque é uma sentida homenagem à minha cadela, elaborada na altura em que ela morreu.

Eu cresci,
Tu envelheceste.
Duas espécies.
A mesma raça.
Deixaste
A dor da partida
E o consolo
Da lembrança.
Ensinaste-me
Que a amizade é um dom
Que a morte rouba
Mas não apaga.

domingo, 8 de novembro de 2009

ÊXTASE

Creio que este foi o último poema que criei antes do interregno sem escrever.
Não é nenhuma obra-prima, mas ainda assim, gosto dele.

Gosto da torre
Que se ergue sobre mim
E ameaça envolver-me.

Gosto do mel
Em que o meu nome se transforma
Na sua voz monocórdica e suave.

Dos olhos de mar
Em madrugada de nevoeiro
Na pele morena
Com toque de brisa marítima.

Do odor de feitiços
Em campos perfumados
de Primavera.

Dos lábios generosos
Apenas posso adivinhar
A suavidade enganadora
De uma pétala de orquídea.

E das mãos
O toque de nuvem
Percorrendo a minha pele
Vestida de desejo.

E eu, julgando-me achada,
Anseio por me perder.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A AREIA E O MAR

(Foto: Cascais)


Quando voltei a escrever depois de um longo tempo sem o fazer, este foi o primeiro poema que escrevi em português. Sinto que houve algum amadurecimento em relação aos meus poemas mais antigos, mas há ainda, sobretudo, um longo caminho a percorrer...


Desmancha-se o mar no regaço da areia
E logo para longe foge envergonhado,
Incerto de não haver no seu gesto ousado
Malícia que ofenda seu manto de Astreia.

Mas ainda mal da praia esteve ausente
Logo regressa, travesso e insistente,
Torna a tocá-la com suas mãos de espuma
Debaixo do sol, da chuva ou da bruma.

Em manso abandono esquece a areia o pudor
Entrega o seu corpo quente à fria água do mar,
Aceita as conchas que lhe traz por tesouro,
De boa vontade consente o namoro,
Às ondas confia seu brando langor
E para longe da praia se deixa levar.

domingo, 18 de outubro de 2009

O ESPELHO


Visto que este blog pretende ser um blog de poesia, vou começar por publicar o poema que, de todos os que escrevi até hoje, é o meu preferido. Não tanto pela qualidade do poema, mas porque saiu do mais profundo do meu ser.


Detém-me o assombro diante do espelho
Ao ver à espreita o monstro que em mim dorme,
O corpo torcido e o rosto disforme,
Peçonha feita de sanha e mau conselho.

De onde saiu tão fera criatura?
De nefasta, fortuita adversidade
Ou funesta natural desventura?
Porque teima quando morto e findo o creio
Em mostrar a odiosa fealdade
Como se ao meu repúdio fosse alheio?

Não sabe com que fúria o rejeito?
Com que garra o arranco do peito?
Não serei nunca livre do veneno
Que nas veias meu sangue contamina
E que em negra tristeza repentina
Disfarçada de ânimo sereno
Me enreda como teia de seda fina?

Mas gerou-me também outra linhagem
Onde vingam a honradez e o brio
E pode triunfar neste desafio
Mesmo quem parte só com meia vantagem!

E se me faltar parte de boa herança
E a perfídia me quiser tragar,
Não há-de faltar a perseverança.

Só depois do caminho navegado
Saberei se a bom porto pude chegar
E se o torpe monstro foi derrotado.

Segue assim aberta a minha história
Até que o presente seja memória
E a terra que é hoje minha guarida
E onde deposito cada passo
Se compadeça enfim do meu cansaço
A minha existência dê por cumprida
E me receba em seu materno regaço.