quarta-feira, 5 de novembro de 2014

PASSEIO A SINTRA


   "Quanto mais parada estás, pior", dizem-me. Então, apesar da agonia que se acoplou aos meus movimentos, e que se segue aos meus movimentos, forço-me a reagir. "Se não aguentar, posso sempre voltar para trás", penso. É a vantagem de sair sozinha...
Destino? Sintra. De novo. Mas nunca me farto.
   Lembro-me que ando há séculos para fotografar a cascata pouco antes da Regaleira. Da última vez, fotografei amigas na cascata, fui por elas fotografada na cascata, mas acabei por não fotografar a cascata sem ninguém.
   Na descida do Café Saudade reparo que, contra o que tinha planeado, me esqueci de carregar a bateria da máquina, que já está no vermelho. Mais um sinal de que a minha sanidade mental segue o mesmo caminho da minha saúde física. Enfim... Só pretendo duas ou três fotos da cascata. Talvez se aguente.
   Decido ver primeiro as lojinhas da Rua Dr. Alfredo da Costa. Do outro lado, uma fachada florida chama-me a atenção e não resisto a fotografar.


   
   Curva do Duche. Do lado direito, umas singelas florinhas convidam-me a tentar algumas macros. Por este andar, a bateria não vai durar até à cascata.



   Enquanto aponto a máquina a uma estátua, um casal passa por trás de mim. "Que bonito que isto é!", oiço a voz da rapariga.



   Sigo o meu caminho, apreciando com o olhar a paisagem natural e a mercadoria dos vendedores de rua: écharpes, pulseiras, quadros com os pontos mais emblemáticos de Sintra, livros em segunda mão, desenhos geométricos esotéricos...
   O ouvido aprecia a variedade de línguas que se vão escutando: do espanhol, francês, italiano, alemão, russo, chinês, japonês, ao português – "nosso" ou com sotaque brasileiro –, além do omnipresente inglês.
   As feições dos transeuntes também espelham essa maravilhosa diversidade cultural, neste cantinho do mundo onde todos se entendem. Mesmo sem falarem as mesmas línguas, as pessoas sorriem-se, param delicadamente para não interferirem nas fotografias dos outros, agradecem quando os outros fazem o mesmo...
   Atravesso na passadeira ao chegar ao Centro Histórico, para ver as lojinhas de artesanato. Ao chegar à rua da célebre Piriquita, deparo-me com uma estátua humana, acompanhada de música que parece transportar-nos para outro mundo. Tem asas e um cântaro. Será um anjo? Pondero tirar uma foto, mas não ia ficar bem, há muita gente à volta... Não fui só eu a ter a ideia. Relutante, continuo a subida, mas decido olhar para trás. Já não há tanta gente ao pé da estátua. Sentindo-me um pouco exposta por não poder agora passar despercebida na multidão de turistas, fotografo, ainda assim, a estátua.
   Vasculho o porta-moedas, esperando sinceramente não ter gasto todas as moedas no bilhete de comboio. Não gastei. Deposito uma moeda na lata em frente da estátua. Como se movida por um mecanismo, esta faz-me uma vénia perfeita, esboçando um sorriso bondoso. Sorrio também e faço uma pequena vénia de cabeça. Digo um tímido "obrigada", nem sei bem se a estátua ouviu. Sempre senti que as estátuas humanas eram como aqueles guardas que não podem responder para não se distraírem do seu dever...
   Sigo o meu caminho, esperando que a estátua não tenha tomado a minha timidez por má educação.



   No fim da subida, um azulejo que talvez remeta para o Monte da Lua e seus esoterismos...



   Na subida, vou vendo as lojinhas; de um lado, do outro... Depois, desço umas escadas e estou de volta ao Centro Histórico. Continuo pela rua que conduz à Quinta da Regaleira, sempre vendo as lojinhas de artesanato.
   Pelo caminho, a cor de algumas folhinhas anuncia que o Outono chegou.



   Ao chegar à cascata, fico um pouco desiludida. Já lá se encontra uma família, relativamente numerosa. Romena, parece-me, pela sonoridade da língua e peles trigueiras. Têm tripé e tudo; provavelmente vão demorar. Sem grande esperança de que se despachem antes de eu voltar para trás, resolvo avançar um pouco mais, talvez até à Quinta da Regaleira.
   À minha direita, reparo num portão aberto. Cá fora, os cartazes anunciam «Sintra Magic». "Mais uma lojinha esotérica", penso. Mas não. Uma senhora levanta-se da cadeira onde estava sentada no jardim e, com carregado sotaque inglês, dá-me as boas tardes, explicando-me que é uma galeria de fotografia. Convida-me a entrar, esclarecendo que é gratuito. "Talvez assim dê tempo para a cascata vagar", penso. Visito paulatinamente a galeria. Gostei especialmente de uma foto das Azenhas do Mar. Da sua luz.
   Descendo umas escadas, vai-se dar a um lago de águas verdes, com uma estátua no centro. Apetece-me fotografá-lo, mas parece-me indelicado numa galeria de fotografia com fotos para vender.
   Volto para trás. Agradeço à senhora da galeria e digo-lhe que apreciei o trabalho, enquanto ela convida outros a entrar.
   Avanço um pouco mais. Do outro lado da estrada, vêem-se já algumas estruturas dos jardins da Regaleira, que fotografo.



   Volto depois para trás. De um grupo que segue em sentido contrário, faz-se ouvir uma voz feminina: "Pura naturaleza!"
   Dado o tráfego de turistas para um lado e para o outro, não é provável que vá ter a cascata só para mim. Quando lá chego, parece-me que é a tal família que se vai embora.Mas agora falam espanhol; se calhar, já são outros, não fixei bem os rostos.
   Ficam ainda três pessoas, mas consigo fotografar a cascata sem as apanhar.
   Com as fotos da cascata e as outras que se foram proporcionando pelo caminho, apanho o comboio de volta. Enquanto passo abstraidamente em revista as fotos do dia, oiço uma voz feminina ao meu lado: "Excuse me...". Viro-me para ver se é comigo e o elemento feminino de um casal estrangeiro, indicando o sentido de marcha do comboio, pergunta: "Lisbon?" "Yes", respondo, "it's the last stop". Com um sorriso rasgado, a senhora responde-me mostrando os dois polegares virados para cima.
   À saída do comboio, quando já não dá para voltar para trás, lembro-me que a certas horas, nem todos os comboios vão dar ao Rossio, que era provavelmente o que queriam os estrangeiros dizer com Lisbon. Já fora do comboio, procuro ansiosamente o visor com o olhar, para ter a certeza de que o destino é mesmo o Rossio. Constato com alívio que não enganei involuntariamente o casal entusiasta.
   Chego a casa coxa; mal consigo apoiar o pé direito no chão. As dores que me apanham lombar, cóccix/sacro, ancas e perna esquerda são tão intensas que pernas e braços reagem tremendo como que em estado de choque. Mas enquanto tento recuperar estendida no chão, vou pensando nas pequenas interacções com os seres humanos com quem me fui cruzando e um raio de alegria penetra a minha profunda tristeza. Pelo menos, por momentos. Suponho que Sintra será sempre a minha Avalon, e se nela não puderem ser curadas as minhas feridas, espero, ao menos, nela sempre poder repousar...



segunda-feira, 29 de setembro de 2014

VISITA AO BUDDHA EDEN/VISIT TO BUDDHA EDDEN GARDEN


Fragmentos de uma segunda visita [em boa companhia :) ] ao Buddha Eden

Fragments of a second visit (in nice company :) ] to Buddha Edden

Nuvens reflectidas na água
Cloud reflections on water

Papoila entre seixos
Poppy flower amidst pebbles

O comboio turístico do Jardim
The Garden's tour train

Mural


Pormenores do mural
Mural details

Infelizmente, a única suficientemente nítida que me saiu destes três velozes patinhos
Unfortunately, the only clear enough shot I was able to take
of these three fast little ducklings

Já me esquecia das figuras centrais do Jardim...
Almost forgot the Garden's main characters...

O rebento de uma das árvores produtoras de bolota. Não sei ao certo qual delas...
The sapling of one of the acorn producing trees. Not sure which one...

domingo, 12 de janeiro de 2014

"Friends are God's way of apologizing for family"

Provérbio da língua inglesa/Proverb from the English language