quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A CASA ABANDONADA Capítulo II (PROVISÓRIO)

II

Ema meteu a grande chave na fechadura e rodou-a com dificuldade. Depois, tiveram ambos de empurrar a porta, que estava descaída e inchada.
– Bom – comentou Daniel, – uma coisa que vamos ter de trocar são as portas...
– Mal posso acreditar que é mesmo minha! – exclamou Ema, sem se importar com o estado de avançada degradação em que os elementos que compunham a moradia pareciam estar.
Era perto do meio-dia e o sol entrava timidamente pela porta que tinham deixado aberta, como se receasse ser um intruso naquela casa que há tanto tempo deixara de frequentar.
A casa não estava mobilada, mas tinha algumas peças de mobiliário que os antigos donos tinham deixado. A sala de jantar, o primeiro sítio onde penetraram depois de terem passado a entrada, era enorme como o salão de um palácio, e tinha apenas uma mesa comprida onde se poderiam sentar mais de vinte pessoas. Estava coberta de pó, bem como o chão. Só uma das janelas tinha ainda o que restava de um vidro; todos os outros tinham sido completamente partidos. Além da sala de jantar, o primeiro andar tinha uma casa de banho, uma sala de estar e um salão amplo, que parecia ter sido construído posteriormente e que, por isso, dava a sensação de ser um anexo, onde se encontrava uma estante cheia de livros. O tecto dessa divisão constituía um terraço e havia uma janela virada para uma grande depressão do terreno, suficiente para causar uma queda mortal a alguém menos cuidadoso. Ema abanou a cabeça com ar de desaprovação.
– Como é possível que tenham deixado para trás todos estes livros?
Pegou em alguns e descobriu que possuía verdadeiras antiguidades, peças de inestimável valor. Ficou satisfeita por ver que, apesar dos muitos livros que se encontravam na estante, havia ainda bastante espaço para pôr os seus próprios livros. À direita do espaço amplo que constituía a entrada, encontrava-se uma pequena porta, apenas com a altura e a largura suficientes para deixar alguém entrar e sair.
– Segundo a planta da casa – disse Daniel – é a cozinha.
Embora não estivesse fechada à chave, tal como acontecera com a porta da entrada, o tempo provocara o relaxamento das dobradiças, fazendo com que a porta descaísse, pelo que tiveram de fazer força para a abrir.
No andar de cima, havia três divisões amplas que tinham servido – e voltariam a servir – como quartos. Havia ainda mais uma casa de banho e uma outra pequena divisão que talvez tivesse servido de sala de costura ou de quarto de brincar. Apenas um dos quartos tinha uma cama e havia uma cómoda noutro. Além do pó, as aranhas tinham feito teias em todos os sítios imagináveis e alguns dos livros da biblioteca tinham sucumbido ao bicho do papel.

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