quarta-feira, 29 de setembro de 2010

ALCOUTIM (PROVISÓRIO)

Não sei se isto vai dar a algum lado ou morrer antes de começar, mas ao ler Lendas de Portugal, uma obra que consiste na compilação de lendas por concelho, elaborada por Viale Moutinho e publicada pelo Diário de Notícias, tive uma ideia para um projecto de poesia. Projecto esse que consistiria em poemas inspirados nas típicas lendas portuguesas de mouras encantadas e não só. Não pretendendo fazer um poema para cada lenda, não só porque, naturalmente, nem todas me inspiraram da mesma maneira, mas também porque se tornaria repetitivo e monótono, seleccionei as que mais me tocaram e aquelas que mais me pareceram prestar-se à expressão poética.
Como digo, não sei se é um projecto para levar até ao fim ou se a inspiração me falhará a meio do caminho, mas por agora, aqui fica o primeiro poema.
.
.
.
Em ponto alto do concelho de Alcoutim
Ronda a moura, triste e só, a azinheira
De longo encantamento prisioneira,
Em ânsias esperando aquele que há-de pôr fim
À cruel e arrastada tirania
Dos grilhões de tão espantosa magia.
.
E nas ruínas do velhinho castelo
Guarda a moura o tesouro lauto e luzente
Com que há-de presentear o valente
Que chegado o mês de Março se apresente
E se aventure em perigoso duelo
Contra a enorme e reptílica criatura
Que em fúria se há-de lançar da sua lura
Ao ouvir soar a meia-noite em ponto
Para o final e decisivo confronto.
.
P’ra trespassar a pele da fera bravia
Armas de fogo não terão serventia
E só a nobreza maior do frio metal,
De lâmina fulgente de espada ou punhal,
Livrará a moura da sua agonia.
.
Mas mais tem pesado o medo que a bravura
E continua por vir o cavaleiro
Que tentado por tesouro ou formosura
Venha pôr fim ao já longo cativeiro
Da moura que vai sonhando o dia inteiro
Com quem a furte à sua triste clausura.

Sem comentários:

Enviar um comentário